Pedalando pelas ruas da cidade, alguém mexe comigo, me
chama, olho para o lado, uma senhora, com uma saia longa e com uma bolsa. Me
chamando para ir até ela.
Psiu! Oi rapaz! Vem cá!
Olhei meio espantado, e logo pensei, o que ela quer? Eu vou
ou não? Falo que não dá, estou com pressa?... Será que é uma cigana e quer ler
a minha mão? Será que ela está esperando alguém para ser vitima de alguma
armadilha? Será que ela é uma dessas mulheres que faz feitiçaria? Talvez meus
pensamentos estão a julgando mal. Vou lá ver o que ela quer.
Oi, pode falar.
Você pode me ajudar? É que eu vim do bairro Segismundo
Pereira e trouxe esses dois sacos pesados, e você pode me ajudar a levar até a
minha casa? Meu filho disse que me buscava aqui no ponto de ônibus, mas agora
falou que não vai dar.
Tudo bem, eu ajudo. Peguei o dois sacos, um estava leve,
outro realmente estava pesado. Coloquei o saco mais pesado no cano da bicicleta
e o outro fui carregando no outro braço, mas eu estava achando muito estranho. Nunca
aconteceu isso comigo, de ter medo em ajudar, mas fiquei pensando o tempo todo,
será que é alguma pegadinha? É algo armado para me assaltar? Será que essa
mulher faz algum tipo de maldade? Pra onde ela está me levando, será realmente
pra casa dela? Será que nesses sacos tem arroz e feijão como ela disse?
Fomos andando e conversando. E eu, meio cismado, não sei
porque, mas nunca ajudei alguém e me desconfiando, não me entendi, acho que são
as coisas que acontecem no mundo e estou ficando paranóico. Chegando na casa
dela, ela disse, pode vir. Achei melhor esperar, enquanto eu deixei a bicicleta
no tripé, por um segundo a senhora sumiu num lugar escuro, foi chegando devagar
para ver onde ela tinha entrado, quando vi ela tentando abrir a porta. Cada vez
fui ficando mais cismado ainda com aquele lugar bem escuro, pensei, vou deixar
esses sacos aqui e me mandar, mas ela pediu para que eu levasse mais pra perto.
Nessa hora eu pedi a proteção de São Miguel Arcanjo numa rapidíssima oração
pelo pensamento. E Segui em frente com mais coragem, porque tive medo de ser
vitima de algo armado.
Não consigo colocar a chave na fechadura, você coloca pra
mim?
Peguei o chaveiro da mão dela e consegui encaixar, vi que
debaixo da porta estava a luminosidade e ouvi o som ligado. Logo perguntei se
tinha gente lá dentro, ela disse que não, e que tinha esquecido o som ligado.
Encaixei a chave na fechadura e deixei ela abrir a porta, e
ela entrou, e eu pensei, agora eu casco fora de vez, preocupado com minha
bicicleta lá de fora. Ela me pediu para que eu colocasse os sacos dentro da sua
casa. Eu fiz isso rapinho e sai da casa, já despedindo dela.
Ela disse sorridente; Muito obrigada! Muito obrigada mesmo,
graças a Deus você me ajudou! Tão novo e tão caridoso!
Muito obrigado, como é o nome da senhora? Anita (peguei na mão
dela). Tudo bem dona Anita, fica com Deus. Vai com Deus também meu filho, e
muito obrigado mesmo.
De nada, tchau!
Sai dali e montei na bicicleta e fui embora.
Eu nunca fiquei com medo, a palavra certa é essa, medo. Dessa
vez, não sei porque, mas fiquei com medo de ajudar.
Fato real
Vlad Salomão.